domingo, 22 de março de 2009

Poema: Minha Própria Tortura

Não me aguento dentro de minha própria pele
Encurralado contra ossos e carnes
Eu faço minha própria tortura
Pois a tortura é ser eu
Talvez eu possa dar um fim a isso
Se eu pudesse viver fora de mim
Eu o faria
Caindo a cada dia
Estou na lama
Nas garras do demônio
Não consigo sair daqui
Mas gostaria poder
Porque estou preso dentro de mim
Já estou farto de pensar
Pois o mínimo impulso cerebral
É capaz de desencadear horrenda dor
Minha vida é ser sempre o último
Eu possuo vida?
Esquecido pelos outros e por mim
Quem pode me ver ou me ouvir?
A minha derrota é previsível
Mas já não sou um derrotado?
Caindo a cada dia
Não viver seria a escolha mais fácil
Mas eu quero sair daqui
Eu faço minha própria tortura
Caindo a cada dia
Portanto meu holocausto também
O fim de tudo é logo ali
Já estou farto de pensar
Entretanto é tudo o que me resta
Ficar preso dentro de mim
Caindo a cada dia
Até que meu corpo encontre o chão

(Lord Klavier)

segunda-feira, 16 de março de 2009

Música: I'm Dying Alone (tradução)



Estou Morrendo Sozinho


Você não pode me ver caindo?

Em uma queda sem fim

Você não pode me ouvir chamando?

Uma chamada infinita

Você não pode me ver sangrando?

Estou perdendo o controle

Você não pode me ver morrendo?

Estou morrendo sozinho

(BLUTENGEL)

Poema: Morte (Hora de Delírio)


Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o termo
De dois fantasmas que a existência formam,
– Dessa alma vã e desse corpo enfermo.

Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és o nada,
Tu és a ausência das moções da vida,
Do prazer que nos custa a dor passada.

Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem. Tu és apenas
A visão mais real das que nos cercam,
Que nos extingues as visões terrenas.

Nunca temi tua destra,
Não sou o vulgo profano:
Nunca pensei que teu braço
Brande um punhal sobre-humano.

Nunca julguei-te em meus sonhos
Um esqueleto mirrado:
Nunca dei-te, pra voares,
Terrível ginete alado.

Nunca te dei uma foice
Dura, fina e recurvada;
Nunca chamei-te inimiga,
Ímpia, cruel, ou culpada.

Amei-te sempre: – e pertencer-te quero
Para sempre também, amiga morte.
Quero o chão, quero a terra, – esse elemento,
Que não se sente dos vaivéns da sorte.

Para tua hecatombe de um segundo
Não falta alguém? – Preenche-a tu comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.

Miríadas de vermes lá me esperam
Para nascer de meu fermento ainda.
Para nutrir-me de meu suco impuro,
Talvez me espera uma plantinha linda.

Vermes que sobre podridões refervem,
Plantinha que a raiz meus ossos ferra,
Em vós minha alma e sentimento e corpo
Irão em partes agregar-se à terra.

E depois nada mais. Já não há tempo,
Nem vida, nem sentir, nem dor, nem gosto.
Agora o nada, – esse real tão belo
Só nas terrenas vísceras deposto.

Facho que a morte ao lumiar apaga,
Foi essa alma fatal que nos aterra.
Consciência, razão, que nos afligem,
Deram em nada ao baquear em terra.

Única idéia mais real dos homens,
Morte feliz, – eu quero-te comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.

Também desta vida à campa
Não transporto uma saudade.
Cerro meus olhos contente,
Sem um ai de ansiedade.

E como autômato infante
Que ainda não sabe sentir,
Ao pé da morte querida
Hei de insensato sorrir.

Por minha face sinistra
Meu pranto não correrá.
Em meus olhos moribundos
Terrores ninguém lerá.

Não achei na terra amores
Que merecessem os meus.
Não tenho um ente no mundo
A quem diga o meu – adeus.

Não posso da vida à campa
Transportar uma saudade.
Cerro meus olhos contente
Sem um ai de ansiedade.

Por isso, ó morte, eu amo-te, e não temo:
Por isso, ó morte, eu quero-te comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.


(Junqueira Freire 1832 - 1855)

domingo, 15 de março de 2009

Poema: Transfiguração



Das manhãs de solidão profunda
Às noites de desespero desconsolado
As aflições que vêm a tona
Para, de mim, se acabarem
As interrogações surgem sem respostas

As trevas consomem depressa
A cada estrela que surge a brilhar
É cada minuto que se esvaia
Por que a morte não dá um fim a isso?

A dor é cada vez mais profunda
O corpo se retorce com muita relutância
O organismo tenta lutar contra o outro
Mas as trevas consomem depressa
A cada estrela que surge a brilhar
É cada minuto que se esvaia

A minha batalha contra isso é em vão
A minha tormenta exclusão
Só alimenta ainda mais a fome
Eu já não tenho mais forças para lutar

O meu sentido aguçado me arrasta
Arrasta-me para onde eu mais temo
Para onde eu menos desejo
Quando o fim da linha chegar
A surpresa será enorme
Mas é muito difícil controlar-se

Ela me olha
Eu a reconheço
Ela me repugna
Mas eu a desejo

O grito quebra agudo na escuridão
Os meus olhos a admiram perplexos
Os meus dentes a devoram com vontade
O remorso vem aos prantos
Ou seria aos uivos?

Mas já não dá mais para lamentar
A escuridão se dissipa
A lua se esconde
Mas eu nunca irei animar

Por que a morte não dá um fim a isso?
Porque é sempre assim:
Das manhãs de solidão profunda
Às noites de desespero desconsolado

(Lord Klavier)